terça-feira, 2 de setembro de 2008

o ideal e o desengano

Queria ter o dom de fazer rir mesmo em pleno deserto. Mas essa sua conversa só me faz pensar em um assunto mórbido: uma trapaça que a nossa língua, cheia de malícia e armadilhas, me pregou com a palavra desenganado. Somos desenganados frente à ameaça de morte (como se todo dia ela não fosse uma hipótese).

Passamos por toda a vida, então, enganados?

Pode ser pura miopia narcísica, mas confesso, não suportei essa idéia. Desde então, passei a tentar resgatar quantas mortes já vivi. Falo de cada momento em que estive desenganada, em que tropecei no equívoco de mim mesma. Cada momento em que desmascarei, diante do espelho, a justificativa perfeita para uma certeza medíocre. Reparei que todos esses momentos se deram em derrotas, quando perdia algo de muito importante pra mim. Pois é, meu caro, a perda te rouba um pedaço, te obriga a um luto, te exige rever parte da responsabilidade. Não é isso o desengano? Essa desordem no que antes parecia um organismo logicamente funcional?

Mas como?! Se nossa Era só reconhece os vitoriosos, que nos resta senão sermos os nossos clones de suce$$o? Tolos e enganados.

Não foi, portanto, o Ideal que desistiu. Fomos nós. Ele permanece em seu Olimpo, tão sedutor e majestoso quanto pernicioso e voraz. Só aceita em seu exército aqueles que suportam perder. Suportam, sem conforto.
Até já,
Guilhermina

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