quarta-feira, 10 de setembro de 2008

o medo por companhia


Às vezes, você fala como quem troveja; às vezes, como quem soluça baixinho e só, em plena madrugada urbana. Quanto guarda da dor da existência? Quanto esconde, latente, outra dor? Medo? Quem pode ser melhor companheiro, sentinela e alerta? Dizem até que só podemos seguir com ele – esse imediato daqueles que vêem.


Aliás, não foi exatamente isso que retiraram de nós? A promessa de felicidade não é justamente o mais perverso dispositivo para tornar eficaz a desistência do pensamento, o descarte da indignação, o repúdio às causas, o esvaziamento da palavra e a anulação dos sentimentos?


A genialidade do poder nos últimos quarenta anos não consistiu precisamente do aniquilamento da cultura, realizado por um bisturi preciso, revolucionário e asséptico, chamado entretenimento? Esse demônio maquilado que opera sobre todas as artes, sobre o corpo e sobre os sentidos como um alucinógeno?


Não é a felicidade a granel e embalada para viagem o que justifica toda a política de resultados dos megaeventos, hipermercados e super potências?


Querido, estou cada vez mais convencida que esta droga também foi fabricada. Tem como efeitos colaterais a paralisia e o mutismo, e como objetivo principal o vício. Só isso justifica o delírio no vazio que nos cerca, o qualquer preço que se paga por um “papelote de felicidína”. É preciso ter medo. De outra sorte, restam somente o suicídio ou o assassinato, o que convenhamos, é o mesmo sem sentido.


Em outros tempos, isso teria o nome de genocídio ou holocausto. Que nome as gerações a seguir encontrarão para o nosso destino?


Silêncio,

Guilhermina.

PS. Rita passou por aqui e achou melhor eu tomar um chicabom.

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