quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

carta ao Anônimo

Prezado Anônimo,


Você não imagina o prazer de encontrar suas palavras. É muito bom saber que falo a mais alguém além dos “nobres” que passam por esta esquina. Dá-me a sensação de romper divisas, revigorando em mim o prazer de compartilhar este vício pelo pensamento.


Na verdade, hoje mesmo, uma das minhas filhas me disse que minha compulsão não é por alguma coisa, mas pela própria compulsão. Acho que é verdade, às vezes tudo só me parece encontrar sentido no muito. Muito qualquer coisa, desde que muito. Confesso que esse traço que me constitui ora me assusta, numa tangente qualquer do enlouquecimento; ora me encanta, numa mediatriz da entrega e do apaixonamento. Mas tenho um defeito a mais, posso muito pouco (que ironia!) sozinha. Por isso mesmo, até um blog, para ser meu, propus em parceria. Isso me irrita. Esperneio, ralho, blasfemo, brigo comigo mesma, exigindo-me aprender a caminhar só, mas ando um ou dois quarteirões e quando dou por mim, já estou novamente estacionada, à espera de algum outro que me acompanhe nas andanças e destinos. Por tudo isso, o recente silêncio de Ataulfo, com quem combinei me encontrar nesta esquina, um tanto me cala também. Dialogar não é o mesmo que ouvir somente ecos, certo?


Tuas palavras, no entanto, me convocaram. Fizeram-me lembrar de uma frase que ouvi faz alguns anos, acho que do Afonso Romano de Santanna – quem espera coagula no tempo... Assim, de repente, acho que preciso aprender a caminhar com estranhos, anônimos, estrangeiros. Entabular, em línguas diferentes propostas distintas. Aprender novas semânticas, arriscar novas idéias.


Não. Não é a primeira vez que ouso propor-me a isso. Sabe onde reluto? Sempre na sensação de que não quero ser eu quem abandonou. Mais um muito de que preciso. O da insistência.


Como você vê, sou “neuroticamente leal”. Se isso é bom? Não sei. Cobra seu preço. Mas o que vale realmente na vida que não tenha um alto custo? De todo modo, podemos caminhar um pouco além, até algumas esquinas adiante. Revelarmo-nos mais, até que, quem sabe, façamos diferença um para o outro, além dos títulos, além das convenções, além das distâncias. É o grau de intimidade e permanência que difere as relações sociais das pessoais, você não acha? São estas últimas as que realmente me interessam.


É exatamente por isso, pela diferença que Ataulfo faz pra mim, que ainda lhe dou crédito, que ainda acredito que ele estará sentado aqui no Jobi, amanhã ou depois, para me contar alguma história que explique sua ausência e sua descortesia.


Então, vamos? Que tal começar me dizendo seu nome? Ou devo continuar a lhe chamar de Anônimo? Quanto a mim, você já sabe: Guilhermina. Rainha, só para os mais ímtimos.





Um comentário:

Anônimo disse...

querida Guilhermina,

Pois que realmente caminhes sozinha e que tenha em nós, seus leitores, a(s) outra(s) voz(es) que tanto buscas. Guilhermina pode e deve encontrar-se com muitos amigos, ou poucos, mas travar ainda assim o diálogo que a faz mover-se. Eu me disponho, pois encontro aqui um motivo para pensar e falar além dos fatos. Devo confessar que, talvez por defeito de ofício, sou movido a fatos. Mas se é justamente a diferença que lhe interessa, cá estou eu! Ah, aliás, me chamo Aristides, a seu dispor.

bjs.