terça-feira, 9 de dezembro de 2008

mais que respiração

Querido,


Difícil olhar a tua cadeira vazia, mesmo que por “algum tempo”. Retorno ao nosso primeiro encontro nesta esquina, há aproximadamente três meses, quando me extasiava com a perspectiva do nosso “re-encontro marcado”. Não por imperativo algum, mas por desejo confesso e partilhado. Não por promessa, mas por pacto. De amizade, de identidade, escolha e arbítrio. Se ansiei por um compromisso, foi assim por afeto e admiração; e é verdade, pelo que reconheço como raridade em alguns encontros dessa nossa estrada breve, surpreendente e efêmera. Jamais previ terno e gravata; relógio e espartilho ou outros apetrechos que nos apertasse a respiração.


De outra sorte, sei da tua desconfiança por espaços virtuais. Assim como sei das tuas giras, corridas desde carnavais mais remotos, em busca do pão e das outras necessidades do todo dia. Por isso mesmo, o virtual me pareceu uma contribuição desses nossos tempos hostis, porque a qualquer momento do dia, ou das madrugadas que sabemos preciosas para nós dois, podemos escapar para além das necessidades, para além do metal que atormenta tanto na falta quanto no excesso, para além das crises numéricas; e encontrar nas palavras, um território onde a subjetividade é a imperatriz.


Lamento sua falta, com saudade antecipada. Detesto me despedir, mesmo que temporariamente dos que amo com zelo e admiração. Sabemos que podemos sobreviver às distâncias, às ausências e aos silêncios; mas para mim, a vida assim é mais triste. E se algum dia tive vergonha da confissão do afeto, do desejo ou mesmo da necessidade de alguém, já há muito esta vergonha me abandonou. Desde o dia que compreendi ser este um dos poucos motivos no qual a tristeza se faz digna.

Quanto a abrir a roda em nossa esquina, acho que vou preferir andar por aí. Da história que se escreveu na Dias Ferreira, esquina com Aristides, preserva-se a memória, mas nunca mais se há de desejar o preço da vida. E nisso, tenho certeza que concordamos.


Em tempos de encerramento de campeonato, meu coração, que você sabe tricolor, respira aliviado, fora da zona de rebaixamento. É pouco. E é tanto! Salpico, na tua galera rubro-negra, talco com água de cheiro e a ti desejo, em especial, além do ar; raça, amor e paixão. É nessa arquibancada mista, aonde sempre nos encontramos, que continuo te desejando. Mande notícias.

Um beijo,

Guilhermina


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