Esperei por você e senti sua falta quando você não veio. Tomei um chope e mais outro, tentei seu celular, mas você não atendeu. Aliás, não entendo porque você carrega esse aparelho? Tomei a solitária derradeira e resolvi caminhar na praia. Sabe o que é? Acho interessante observar as pessoas sozinhas sentadas num bar. Têm uma autonomia, uma liberdade... Mas eu? Sempre acho que serei o retrato do desamparo. Neura?
Bem, fui andar. O barulho, a brisa, a bola voando de um lado para o outro desenhava o ziguezague do meu pensamento. Nostalgia? Não sei se é esse o nome. Um quê de tristeza, uma pitada de inquietação, silêncio e depois zoeira, zoeira e depois silêncio. Acho que é o meio-dia... Lembra daquele texto? Hélio Pelegrino, tenho quase certeza... prefácio de O Homem Nu do Sabino?
O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo em sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o outro. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome.
É isso! Me sinto assim. Culpa dos trinta e treze? Pretensão dos mais de quarenta: meio-dia!? A gente gosta de acreditar que vamos viver no mínimo oitenta... e poucos... Será que é um jeito de acreditar que pode viver tudo de novo? Ou tudo diferente? Sinceramente, eu; nem uma coisa, nem outra. Não dispenso quase nada do que trago comigo, nem gosto muito de reedições. Adoro a saudade. É ela quem me conta a minha história. Gostaria é de mais: mais um filho, mais dinheiro, mais prazer, mais tempo, mais... Não é isso que nos faz SER humano?
Às vezes sinto que é como correr a maratona. Na partida, tudo ousa-dia e certeza. Perto do meio do caminho, iniciamos certa administração do aparelho. Uma certa economia. Relutância, talvez? Um pouco depois, metade da gente se pergunta para onde estamos indo e por quê? A outra metade grita: Desistir agora?! Não! Você já veio até aqui – negocia. É... mas falta o ar, a musculatura cansa, a boca anseia. É o coração que insiste?
A bola bate na rede e cai, inerte na areia. Ah, Ataulfo, se você tivesse aparecido sabe o que eu iria te perguntar? Depois do desengano, o que vem é o desvario?
Hein, Ataulfo? Saudade,
Guilhermina
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