Há um corpo decomposto na esquina
Sob o olhar entediado do verão
“Farmacêutico ingeriu estricnina”.
Toneleros, confluência com Barão
Há um pênis extirpado na latrina
De um quarto do Motel “Céu de Neon”.
A perícia, pela arcada da assassina,
Diz que a dona é da zona do Leblon.
Vende, o filho de um juiz, a cocaína.
Quando preso diz-se só consumidor.
Quando solto, vocifera que a heroína
É a polícia, sob o sol do Arpoador.
Há uma festa que é regada à adrenalina
Onde o êxtase da morte é adolescente.
Não sabemos mais se o bonde é da colina
Da Rocinha ou da Marquês de São Vicente.
Há um avô que é pai do neto.Tão menina
É a mãe, que é filha e amante do pavor.
Escondeu-se a sete chaves, senda e sina,
Descobriu-se na eleição pra senador.
Há um crime no Rebouças que alucina,
Um seqüestro que horroriza e atordoa.
Um pingüim é recolhido na Marina
E um bebê é abandonado na Lagoa.
Uma jovem, só por não ser feminina,
Foi surrada e estuprada hoje cedo.
São nazistas, são “carecas”, são rapinas,
Que invejam toda a Farme de Amoedo.
Tantas fraudes e o estado se arruína.
A cidade é uma anarquia, um pardieiro,
Volta aos Goytagazes, tribo que abomina
Todo o povo do meu Rio de Janeiro.
Município, outro prefeito lhe domina,
Queira Deus que não lhe cave a palmo, a cova
A elite carioca é albina,
Quer, no breu das trevas, a Cidade Nova.
Desprezávamos a alma suburbana,
Além túnel residia a insanidade,
Não chorávamos seus mortos e seus dramas
Como o pobre pode ter felicidade?
Hoje, enfim fundiu-se Urca e Brás de Pina,
E o Leblon não deve nada à Piedade.
Quando espremo as manchetes matutinas
Choram as mães da Zona Sul dessa cidade!
Ataulfo
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