Guilhermina,
As esquinas e os botecos são, talvez, os espaços mais democráticos num conjunto social. Locais onde, pelo menos na minha mocidade, os seres pensantes, sem tempo pré estabelecido, aglutinavam-se para pensar o país, as artes, as modas e, até mesmo, a possibilidade da troca de confidências. Eram os lugares preferidos do ente literário para o exercício do falso silêncio e da observação. Nas esquinas ele absorvia o próximo personagem a ser criado ou, numa noite de pouca inspiração, num boteco qualquer, deixava a imaginação ir de encontro a algum par de olhos azuis.
Ando ausente das esquinas e dos botecos, pelo muito de afazeres que a vida vem me destinando. Esses sim, com hora, data e prazos. Ando ausente das esquinas e dos botecos pela exigência da profissão e, como disse antes, não a levo para o templo do Divino Ócio. Ando ausente das esquinas e dos botecos pelas agruras do cotidiano. A nova ordem econômica é temerosa...
Ataulfo com Guilhermina é uma esquina histórica, assim como, Aristides com Dias Ferreira. Pisaram em suas pedras portuguesas, no final dos anos sessenta, pés que tornar-se-iam clandestinos durante a ditadura militar. Os meninos da Aliança de Libertação Nacional. Eram encontros pela liberdade de ser, de estar, de locomover-se, de permanecer sem exigir do outro mais que o limite da vida. Por isso, Guilhermina, pra ti não desejo mais que a respiração!
Devo me ausentar por um tempo. Faça da nossa esquina e boteco, locais de convergência para outros pensantes.
Sem descortesia,
Ataulfo
Um comentário:
Ataulfo: sentimos falta de você aqui no pedaço!
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